sexta-feira, 12 de março de 2010

"A ÁRVORE DA MÚSICA" POR ANDREAS KISSER

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Por Andreas Kisser . 12.03.10 - 13h00

A árvore da música

A época em que vivemos – o nosso presente, o agora – está sendo marcado na linha do tempo como a era da preocupação ecológica, de tentar salvar o planeta e controlar a temperatura da terra, que está subindo cada vez mais e que ameaça a existência da humanidade. Esta é uma terrível herança deixada pelos nossos ancestrais e que agora, talvez tarde demais, estamos tentando mudar.

Recentemente assisti a um documentário chamado “A Árvore da Música”. Esta árvore é o nosso famoso Pau Brasil, a árvore que serviu de inspiração para o nome que batizou esta grande nação. Nação esta que não se preocupa com o que restou desta árvore, quase em extinção. Sua extração começou no século XVII com a exploração dos colonizadores portugueses, pois a madeira produzia uma tinta vermelha muito utilizada na Europa como corante. Com a extração desordenada, ela foi desaparecendo aos poucos, junto com a mata Atlântica, que tomava conta de grande parte do território brasileiro. A situação é tão grave que hoje restam menos de 10% de mata Atlântica no país.

Eu não tinha a menor ideia da importância do Pau Brasil para a música. Ela é simplesmente fundamental, é a madeira perfeita para se fazer os arcos, como diz um dos grandes violinistas que aparecem no documentário: “O arco é a alma do violino”. Portanto, sem a árvore, a música erudita seria totalmente diferente. Para se ter uma ideia da importância dessa madeira, a música que grandes compositores criaram, como Paganini ou Mozart, por exemplo, não seria possível se não fosse o arco feito do Pau Brasil. Isso é realmente inacreditável.

Na mesma época em que o Pau Brasil era roubado das florestas brasileiras e chegava à Europa como corante, na França, ele foi descoberto pelos arqueteiros (construtores dos arcos, que passam a sua arte de geração em geração e que, por causa do perigo de extinção do Pau Brasil, estão com os dias contados). A madeira começou a ser usada na construção dos arcos e a partir daí inciou uma revolução na música.

No documentário, você escuta os relatos de mestres do violino e do violoncello falando da importância do Pau Brasil e a preocupação deles em não ter essa madeira para os músicos das gerações futuras. Músicos como Joshua Bell, David Garret e o grande violoncelista brasileiro Antonio Menezes. Eles explicam as qualidades únicas que fazem desta madeira o produto perfeito e essencial para se tocar os intrumentos de corda.

O mais triste disso tudo é o descaso que as autoridades brasileiras tratam do assunto. Aliás, quem de vocês, que lê esta coluna agora, sabe reconhecer o Pau Brasil, diferenciar essa árvore de alguma outra? Você já viu uma? Eu acho que nunca vi, se vi não sabia que era Pau Brasil. Isso é realmente preocupante, creio que a grande maioria da população brasileira não sabe como é o Pau Brasil. Hoje existe somente algumas pequenas reservas na Bahia e alguns heróis que estão plantando as mudas em cativeiro. Inclusive arqueteiros europeus estão ajudando a financiar alguns projetos parecidos com plantadores de cacau, que é um ambiente propício para o desenvolvimento do Pau Brasil, ou seja, os europeus estão mais preocupados do que nós brasileiros, mesmo por que eles estão tentando salvar a própria profissão.

Entrevistas com biólogos, políticos, com o Ibama, professors e ativistas mostram a dificuldade de fiscalização do comércio illegal das varas, material prima dos arcos e do desânimo e revolta das pessoas que lutam com todas as forças contra a burocracia e o descaso da maioria.

Assitam ao documentário, pelo menos para ter alguma noção do que está acontecendo, do que se pode ser feito e das consequências que a extinção do Pau Brasil pode trazer para a música. A força de todos é que vai fazer a diferença, ainda há tempo de consertar os erros dos nossos antepassados.

Abaixo deixo o trailer do documentário, dirigido por Otavio Juliano, que fez um trabalho excepcional, viajando o mundo e trazendo este problema à tona. Parabéns pelo trabalho e pela inciativa, vamos lutar! Quero que meus tataranetos tenham pelo menos a chance de tocar um violino com um arco de Pau Brasil.